Thursday, April 7, 2011

Morte e Vida Severina

Morte e Vida Severina
— Essa vida por aqui
é coisa familiar;
mas diga-me retirante,
sabe benditos rezar?
sabe cantar excelências,
defuntos encomendar?
sabe tirar ladainhas,
sabe mortos enterrar?
— Já velei muitos defuntos,
na serra é coisa vulgar;
mas nunca aprendi as rezas,
sei somente acompanhar.
— Pois se o compadre soubesse
rezar ou mesmo cantar,
trabalhávamos a meias,
que a freguesia bem dá.
— Agora se me permite
minha vez de perguntar:
como senhora, comadre,
pode manter o seu lar?
— Vou explicar rapidamente,
logo compreenderá:
como aqui a morte é tanta,
vivo de a morte ajudar.
— E ainda se me permite
que volte a perguntar:
é aqui uma profissão
trabalho tão singular?
— É, sim, uma profissão,
e a melhor de quantas há:
sou de toda a região
rezadora titular.

Por que alguém que sabe fazer tantas coisas não consegue trabalho? Não é estranho que alguém que só sabe rezar tem mais oportunidades de emprego que Severino? A morte, quando tem muita presença, pode mudar tudo na vida. O sertão é a fonte de um genocídio que faz com que a vida após a morte é mais importante que a vida mortal. A rezadora traz consolo para as famílias com um parente que morreu.

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